Amigos de Saquarema Amigos de Saquarema: KADU MOLITERNO - QUE TUBO! NINGUÉM VIU?

sábado, 16 de julho de 2011

KADU MOLITERNO - QUE TUBO! NINGUÉM VIU?



É incrível como sempre que você pega um tubo e sai gritando de emoção, sempre olha pra praia para ver se alguém viu, e quando sai da água vai logo perguntando: “Você viu o tubo que eu peguei?”


Se você está com a namorada na areia, que está lá só pra isso, pra ver você surfar e ela diz: “Desculpe, estava tomando sol e não vi amor, foi maneiro?” Poxa, ninguém viu?


Na verdade o surf tem isso, você deve surfar pra você, só você sabe as ondas que pegou, a batida que deu, o tubo, a vaca, a onda que perdeu. Todo surfista adora quando alguém diz: “Eu vi a sua onda, muito boa!”. A gente fica satisfeito, mais até do que no momento que estava na onda.


Quando você tem um fotógrafo na areia, em Pipeline, rema na da série e se arrisca a morrer, faz o drop, põe pra dentro e sai, a onda da sua vida, e quando chega na areia fica sabendo que naquele momento o fotógrafo estava conversando ou trocando de lente e não fez a foto, você fica doido! Não é possível, a minha melhor onda não foi registrada, sacanagem!


Estou falando isso porque me lembrei do “Quebra Mar”, um pico muito famoso no começo da Praia da Barra, onde quebrava clássico, uma esquerda que dependendo da direção do swell dava uns tubos com tamanho e ocos, que a galera punha pra dentro e saia com sorriso na cara.


Lá existia um localismo pesado, onde muitos surfistas eram expulsos da água e às vezes ainda eram colocados pra dormir na areia pelos primeiros lutadores de jiu-jitsu.


Na verdade a família Gracie estava começando a passar a sua técnica nas academias, e seus alunos eram na maioria surfistas cascudos que já eram de briga e passaram a usar a técnica em brigas na praia.


Muitos carros de “haoles” tinham os pneus furados e quando eles saiam da água liam no pára-brisa: “Fora haole!”. Bem, to falando de mais de 20 anos atrás, quando surfavam Pepe, Roberto Valério, Bocão, Rico, Cauli, Walnei, Pitoco, Paulo Zulu, e todos os grandes surfistas profissionais. Quando o mar estava clássico no Quebra Mar,o Arpoador também estava quebrando.


E foi no “Quebra Mar” que peguei um dos melhores e mais profundos tubos da minha carreira de surfista, na verdade o primeiro bom tubo, oco, em que devo ter ficado alguns segundos dentro sentindo aquela energia que só se encontra dentro de um tubo.


É incrível que hoje, 20 anos depois, ainda sinto aquela sensação de prazer e êxtase, e fiquei ainda mais realizado quando soube que todo mundo na areia tinha visto e comentado meu tubo.


À noite, na festinha, o comentário era: “E aí Kadu, vi seu tubo hoje”, e eu sorria como nunca. Na verdade estou feliz até hoje! [risos].


As pessoas que nunca surfaram realmente não vão entender exatamente o que estou dizendo, mas os surfistas de alma, como diz o Rico, saberão e vão entender a emoção que existe em surfar uma onda perfeita, fazer a linha corretamente, botar pra dentro, sair e comemorar pro resto da vida.


Muitos surfistas que estão começando, quando estão entre os amigos que não surfam, ou mesmo em frente as garotas numa festa ficam dizendo “Hoje peguei um tubo na Prainha”. Na verdade o mar não estava bom e não tinha onda pra isso, mas é uma maneira de aparecer e mentir com tamanha convicção que eles acabam até acreditando na própria mentira.


Ser surfista já é um diferencial, já se destaca, e se o cara surfa bem então passa a ser uma personalidade entre sua turma.


Nós somos mesmo uma tribo privilegiada, temos mais saúde, por entrarmos no mar todos os dias, um físico mais malhado, sempre queimados do sol, nossas roupas são coloridas e transadas, nosso carro com uma prancha em cima chama atenção das garotas, e também da polícia.


Na estrada pra Saquarema ou Búzios, a polícia adora parar os carros com prancha em cima, dar uma geral atrás de maconha, e às vezes até encontram, e levam uma propina, e quando não encontram ficam loucos de ódio e acabam humilhando as pessoas colocado-as peladas para uma revista mais minuciosa. Realmente essa tribo ainda é invejada, perseguida e copiada.


É uma pena que cada vez mais as ondas estão mais escassas e o mar mais poluído. O “Quebra Mar” meio que parou de quebrar como antigamente, foi construído ali um píer que descaracterizou o fundo e nunca mais ouvi falar de boas ondas naquela área.


Acho que nós surfistas deveríamos lutar mais pelo nosso quintal. Com a chegada da Copa do Mundo e das Olimpíadas, com a entrada desses milhões de dólares em nosso estado, é uma boa oportunidade para cobrarmos das autoridades mais atenção as nossas praias.


Atenção, principalmente, ao Complexo Lagunar do Marapendi, onde suas águas sujas desembocam no mar que surfamos. Da saída do canal do Quebra Mar até o canal do Rio Morto, no final da praia da Macumba, o mar recebe todo o esgoto sem tratamento de todas as residências e prédios da região da Barra e do Recreio.


A Prainha, que sempre foi a praia mais limpa do Rio de Janeiro, hoje em dia, dependendo da chuva e da direção da corrente, acaba também ficando sem condições para o banho, o que acho um absurdo, pois o mar limpo é fundamental para uma vida mais saudável.


Bem, acabei me distanciando do tema da coluna que era “Ninguém viu?”. Pois é, espero que alguma autoridade leia essa coluna e pense a respeito, sei que muitos empresários e pessoas influentes são surfistas hoje em dia, e tem condições de lutar pelas nossas praias tão lindas.


Nos ajudem a preservar nossas praias e salvar esse esporte tão invejado no mundo.

Aloha e boas ondas
Kadu.


Fonte: pe360graus.com / Ricosurf / Kadu Moliterno

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